Conhecer novos lugares, pessoas e culturas é o que leva milhares de estudantes a buscarem a chance de realizar um intercâmbio.
A vida é cheia de surpresas, basta persistir em seus objetivos para alcançá-los. Nesta edição o Embarque Conosco vai contar o percurso que a estudante de Artes Visuais, Angélica Cavalcante, fez para começar um intercâmbio na Universidade do Algarve que fica no sul de Portugal. Trouxemos também os procedimentos necessários para os que se interessaram e desejam voar mais alto no decorrer da trajetória acadêmica.
Sabemos que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) já é conhecido aqui no Brasil como obrigatório para garantir o acesso às universidades federais e em centenas de instituições privadas por meio dos programas Sisu e ProUni. O que nem todo mundo sabe é que, por uma nova lei, também é possível estudar em Portugal com Enem.
A aceitação do Enem como método de seleção para instituições de ensino superior portuguesas começou em 2014, com a Universidade de Coimbra, que logo em seguida pelas universidades do Algarve e da Beira Interior. “A decisão de usar as notas do Enem aconteceu em razão da qualidade do exame, que já está bem estabelecido no Brasil”, afirmou Joaquim Ramos de Carvalho, vice-reitor da Universidade de Coimbra, por meio de sua assessoria de imprensa.
De acordo com Carvalho, existe um limite de vagas por ano para estrangeiros, que varia de 60 a 80. “Os brasileiros têm se mostrado bastante interessados e a procura aumentou nos últimos anos. Os primeiros ingressantes chegaram há pouco menos de um ano e já estão muito bem integrados à rotina universitária”, ressalta.
Com o Enem, os estudantes brasileiros são dispensados dos exames nacionais portugueses. Entretanto, as notas exigidas são altas. É importante destacar que a nota mínima varia de acordo com o curso escolhido. Como o idioma é o mesmo, os brasileiros são dispensados de exames de certificação na língua. Vale lembrar, porém, que o sotaque dos portugueses pode ser bastante desafiador, por isso é necessário um pouco de paciência no início para garantir o acompanhamento das aulas.
A vontade de conhecer o mundo me fez ir estudar em outro país
Angélica Cavalcante nos conta que a ideia de estudar fora de seu país surgiu quando estava no quinto semestre no curso de Publicidade e Propaganda na DeVry Brasil e ao mesmo tempo no terceiro semestre em Sistemas e Mídias Digitais na Universidade Federal do Ceará (UFC).
“Sempre tive vontade de conhecer o mundo e poder estudar em outro país, sendo assim, em 2015 descobri que tinham universidades Portuguesas que aceitavam o ENEM. Então resolvi concorrer e acabei conseguindo uma bolsa de estudos para o curso de Artes Visuais na Universidade do Algarve que fica no sul de Portugal, no mesmo ano tive que trancar as duas universidades no Brasil para vim estudar em Portugal e estou aqui desde então”, explica.
Custos para fazer intercâmbio em Portugal
Um aspecto considerável para fazer o ensino superior em Portugal é o valor do curso. De acordo com o regulamento, mesmo as universidades públicas cobram mensalidade. A diferença é que o pagamento é feito por meio de uma taxa anual, que é aproximadamente 1.037 euros no caso da Universidade da Beira Interior e pode chegar a até 7.000 euros para a Universidade de Coimbra. Esta cobra ainda cerca de 30 euros para a inscrição no processo seletivo. Nas outras duas, a inscrição é gratuita. No regulamento das universidades é descrito que o valor da taxa anual pode ser parcelado e os estudantes também podem buscar financiamento. Confira aqui os detalhes de cada bolsa de estudos e como se inscrever para cada uma.
Além da mensalidade, é preciso considerar que o país faz parte da Zona do Euro, que atualmente tem uma cotação que varia de 1 para 3,15 reais. Assim, gastos com alimentação, moradia e lazer devem sempre ser multiplicados na hora do planejamento para evitar surpresas. Portugal não permite que estrangeiros trabalhem legalmente no país, mas no caso de universitários é possível encontrar estágios de meio período vinculados aos cursos. No caso da hospedagem, tem a opção de morar nas habitações universitárias. Contudo, desta forma o aluno tem o conforto de estar próximo do campus, isto pode ser algo melhor para quem vem de outros lugares.
Pode acontecer de estudantes receberem bolsas de estudos , foi o caso de Angélica. “Eu tenho bolsa de estudos, então gasto só com uma taxa de 100 euros com a universidade, para custear a alimentação e alguns extras pessoais. No começo gastei muito com roupa de frio por que eu não tinha, e moro na residência universitária então eu não tenho que pagar aluguel”, relata.
Adaptação aos novos costumes
O idioma utilizado em Portugal é oficialmente o mesmo que falamos no Brasil, mas não faltam situações em que os brasileiros e portugueses espantam-se ao ver o outro usar expressões curiosas ou engraçadas. A verdade é que os portugueses não só têm um sotaque totalmente diferente do nosso, como também usam inúmeras gírias e expressões que não fazemos ideia do que possam ser.
“Ter que se adaptar a ser chamada de rapariga foi a pior coisa (risos). Apesar de Portugal ter como língua oficial o português, quem chega aqui sem saber muito das diferenças demora um pouquinho para começar a entender bem. É quase como se eles estivessem falando em outro idioma, além de que muitas palavras básicas do cotidiano que também mudam. O engraçado é que eles nos entendem muito bem, pois consomem bastante nossa cultura, como novelas, programas de TV e filmes”, frisa a intercambista, Angélica.
“Eu estou saindo para outro lugar, mas eu nunca vou deixar de ser cearense”
Segundo o Global Peace Index (GPI), lançado em 2016 pelo Institute of Economics and Peace (IEP), mostra que a Europa é a região mais pacífica do mundo, conforme o documento, seis países foram classificados entre os sete primeiros do ranking global. Em relação ao ano anterior, Portugal foi o país que registrou maior melhora entre os europeus, saltando nove posições e se classificando como o quinto mais pacífico do mundo para se viver. Angélica descreve sua percepção ao chegar no país que iria viver pelos próximos anos.
“Achei muito diferente quando cheguei em Portugal, pois eu nunca tinha saído do Brasil, a primeira diferença foi o clima frio, já que eu era acostumada ao calor do Ceará. A receptividade das pessoas também foi muito diferente, principalmente por ser uma mulher brasileira, a segurança do país me impressionou muito, poder sair com uma câmera e um notebook na mão no meio das ruas era uma experiência quase que surreal, já que eu era acostumada a conviver com a violência de onde eu vinha”, exterioriza.
As variações de lugares modificam a forma de pensar e enriquecem o repertório cultural de cada um, ao mesmo tempo que despertam um novo olhar sobre as diferenças e hábitos da sociedade. “Outra coisa que eu achei muito legal foi a educação no trânsito, isso foi uma das coisas que mais me chamou atenção, mesmo em algumas ruas onde não tem sinal, quando o pedestre coloca o pé na faixa todos os veículos param, não importa em qual velocidade eles estejam, eles param”, observa.
Descontração e perseverança são características que destaca o povo cearense independentemente do local que vá, levamos sempre conosco a nosso jeito de ser. “Dos hábitos que eu trouxe, quando eu vim para cá? Bom eu sempre pensava “Eu estou saindo para outro lugar, mas eu nunca vou deixar de ser cearense” então isso fez com que eu nunca deixasse de soltar e ensinar uma vaia cearense (risos), de mostrar meus colegas de sala como aderir a farinha nos pratos e o nosso baião de dois, e as gírias cearenses, ensinei não somente para portugueses, mas também para outros brasileiros de outras regiões e pessoas de outros países”, comenta.
Dos lugares que conheci
Fazer um intercâmbio é algo marcante na vida de um discente. Essa decisão, para Angélica Cavalcante, significou conhecer novas culturas e histórias e poder desbravar diferentes locais.
“Com certeza as experiências mais marcantes foram às visitas de estudos que a universidade proporciona. Conheci galerias, museus, obras que eu só tinha visto em livros, tudo pessoalmente, e ainda tive a oportunidade de conhecer uma cidade nova a cada visita de estudo. A próxima visita será para Madri”, lembra.
A brasileira, Angélica destaca também a importância de saber conviver com diferentes pessoas, mas fala o quanto é bom ter por perto aquelas que têm a mesma nacionalidade que a sua. “Como em todo lugar que você vai, terá tanto pessoas muito simpáticas, como terá pessoas mais fechadas. Eu moro na residência da Universidade e minha primeira colega de quarto era portuguesa e me ajudou em muitas coisas. Brasileiros tem em todo canto do mundo, então conheci muitos, e isso é bom, pois mata um pouquinho a saudade de casa”, afirma.
“Portugal foi apenas o primeiro lugar que conheci, depois dele tive a oportunidade de conhecer muitos outros lugares inesquecíveis e diferentes como Lyon, Paris e Annecy na França; Malaga, Granada e Sevilha na Espanha; Genebra na Suíça; Denver, Colorado Springs, Tucson, Las Vegas, Salt Lake City entre outras cidades dos Estados Unidos da América”, pontua.
O dia que vi a neve pela primeira vez
“Parece bobo, mas muita gente sempre quis ver neve de “pertinho”. E é por isso que estou compartilhando com vocês a minha primeira vez que vi neve de pertinho. Empolgação e emoção foram o que não faltou!”, demonstra.
“Quem faz o estudante ser bom no que faz é ele mesmo, não é nenhuma universidade”
No Brasil, Angélica estudou tanto em universidade pública quanto privada, então avalia de forma geral. “Depois de passar por universidade pública e privada e ainda vir estudar fora do Brasil eu afirmo que quem faz o estudante ser bom no que faz é ele mesmo, não é nenhuma universidade, se você não correr atrás, nenhuma instituição vai te dar tudo nas mãos. Muitas vezes, somente quando a gente está fora é que conseguimos enxergar as coisas boas que temos na nossa universidade, aqui tenho experiências que aí eu não teria, mas aí também tive muitas experiências e projetos acadêmicos que me enriqueceram demais como estudante, muitas vezes essas experiências são na própria faculdade e infelizmente não são bem aproveitadas pelos próprios estudantes.
Por exemplo, na rádio posso destacar O Programa Intervalo que eu participei desde o primeiro semestre, na Devry Fanor, até eu sair do Brasil, e considero que isso foi uma experiência enriquecedora como estudante e profissional, a Fonte é outro projeto que participei e ganhamos o Prêmio da ACERT – Associação Cearense de Emissoras de Rádio e Televisão, logo no meu primeiro semestre. Então não importa onde você estiver você tem que fazer parte de coisas boas que te acrescentam e te melhoram no âmbito pessoal e profissional”, evidencia.
Para finalizar, Angélica define o que o intercâmbio está representando para sua vida. “Eu vejo o intercâmbio como uma porta. Portugal é apenas o primeiro passo para grandes experiências que tive e que irei ter e não somente em Portugal. Atualmente eu estou fazendo estágio em comunicação no Centro de Ciência Viva, isso está sendo uma ótima fonte de conhecimento para mim. Mas intercâmbio vai além das experiências profissionais e acadêmicas. É sobre aprender com culturas diferentes, é adaptar-se a uma universidade diferente, é ser forte quando a saudade chegar e mesmo assim continuar pois sabe que isso não é o fim do mundo é apenas o início”, enfatiza.
Angélica em Paris.
Angélica em Portugal.
O embarque conosco fica por aqui! Foi muito gratificante poder contar a história da estudante Angélica Cavalvante, que nos passou bastante inspiração para realizarmos nossos objetivos. Então, “se quer algo, vá em frente, corra atrás, persista”. Esta foi mais uma de muitas histórias e dicas importantes que contaremos para você. Continue nos acompanhando, porque o que não faltará aqui serão bons destinos. Um cheiro das suas companheiras de bordo Rai e Paju! Até logo.